terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pequeno Vazio

Como uma teia que foi perfeitamente manipulada, você estava ali. Entre tantas decisões, tantas escolhas, tantos amigos, você decidiu estar lá aquele dia. E eu que tinha decidido ir por causa de outra pessoa, te encontrei. Como chuva de verão você chegou, de súbito e agradável. Você que nunca precisou fazer esforço para que eu sentisse algo por você. Você que era o sonho de qualquer pessoa, estava ali, tão livre, tão encantador, tão interessado, tão perfeito para ser meu. Você que sempre me deixou nervosa, tanto na primeira vez que eu te vi, quando eu não conseguia nem te olhar, como em todas as outras vezes, até as que eu te encontrei sem querer. Aquelas que seu sorriso não era mais para mim, aquelas que seus olhares doces só serviam para mostrar o que eu tinha perdido. E, mesmo assim, me alegrava te ver de perto outra vez, poder ter você na minha vida de novo por alguns minutos, uma tentativa de resgastar dias passados, tentar trazê-los para o presente inutilmente.

Mesmo depois de tantos anos, eu ainda consigo sentir aquela felicidade diferente que você me fazia sentir. Ainda consigo sentir seus abraços. Ainda consigo ver seus olhos exatamente como me olhavam naquela noite. Aquela noite que nós saímos com vários amigos e você, atencioso, não tirou os olhos de mim um minuto sequer. Em nenhum momento você me deixou de lado para falar com as outras pessoas, em nenhum momento você soltou minha mão da sua, não porque você queria parecer carinhoso, mas porque você era carinhoso comigo, sem precisar forçar gestos ou atitudes, você era naturalmente. Você que gostava de andar comigo com a mão em volta da minha cintura, mesmo que ficasse aquela coisa caótica da gente acabar se batendo a cada passo, você fazia questão daquilo, de estar bem ali do meu lado e até ficava inconformado quando eu me livrava do seu braço e segurava sua mão. Você que me irritava quando não queria deixar eu pagar absolutamente nada, não pelo preço, não porque queria causar uma boa impressão, mas porque você era daquele jeito cavalheiro. E como eu, teimosa, insistia para você aceitar o dinheiro e você só me ignorava. Você que já era tão homem e eu que ainda era tão menina. Você que me causava tanta admiração quando ia confiante batalhar pelo que você queria, enquanto eu ainda chorava para conseguir algo. Você que era tão certo de tudo e eu que era tão confusa. E, tenho certeza que, mesmo se eu tentasse, não ia conseguir esquecer daquele último dia quando você ainda era meu. Seu cabelo, seus olhos, sua camisa roxa, seu sorriso que sempre me fazia ficar boba, seu rosto sério quando você me perguntou se eu estava fugindo de você, eu quando sorri e disse que não. Eu não menti para você, você não acreditou, você e eu sabíamos. Eu precisava fugir de você, porque você era a pessoa ideal para mim, porque você era perfeito até nos seus defeitos, porque se eu continuasse te vendo, eu ia me apaixonar e eu tinha certeza que não era o que eu queria naquela hora, não, eu não podia me apaixonar por você, porque eu nunca ia conseguir aceitar te perder depois, então decidi te perder naquele dia antes que fosse tarde demais, só que o que ninguém me avisou é que já era tarde demais.


Leu? Gostou? Críticas, sugestões e opiniões: deixe seu comentário, sua opinião é importante para mim.

4 comentários: