terça-feira, 29 de outubro de 2019

Milagre de natal

Hoje eu ouvi alguém dizer algo sobre "milagre de natal". E é engraçado como algumas situações podem nos levar diretamente para outro espaço e tempo. Porque ouvir essa expressão me levou para uns anos atrás quando você falava muito isso. Tipo quando a gente ficava, sei lá, uns três dias sem brigar ou quando nós concordávamos muito sobre as coisas e você me dizia "isso é milagre de natal". Eu sempre odiei o natal e as festas de fim de ano, mas com você, de alguma forma, eu gostava. Acho que talvez fosse porque a gente se conheceu no fim do ano, bem perto do natal. E aquele dia passou a sempre ser especial depois disso. Então, ouvir isso e relembrar que você usava essa expressão me trouxe um sentimento muito grande de conforto e familiaridade. E foi bom. E depois, como quase sempre quando eu penso, doeu.

Eu queria te dizer - e tudo bem se você nunca ler isso, porque ter a sensação de falar com você já me dá alívio - que nos últimos anos eu passei a me importar muito pouco com as pessoas. E você pode pensar algo como "nos últimos anos, né?", mas, sim. Eu acho que eu precisei me importar menos com as pessoas para eu poder me importar mais comigo. Acho que eu precisei me importar menos com os outros para eu conseguir viver sem me decepcionar tanto e me dilacerar tanto. E, no fundo, eu acabo me sentindo bem mal com isso, ao mesmo tempo. Em vários momentos eu me sinto egoísta e sinto que tem algo errado comigo. Mas eu aprendi a lidar com isso também.

E é irônico porque eu consigo fazer isso muito bem atualmente. Eu consigo viver sem pessoas, de um modo geral. Eu consigo não me importar de sumir e deixar até as pessoas próximas afastadas. Eu consegui me blindar desse sentimento de solidão e necessidade de estar com os outros. E não só de uma forma romântica. Mas, nesses momentos em que eu me pego pensando em você, isso desaparece. Porque eu só consigo sentir vontade da sua companhia e isso é sufocante como sentir falta de ar.

Eu sinto falta de cada pequeno detalhe. E eu fico pensando em como as coisas se tornam gigantes com a perspectiva do tempo e da saudade. Eu fico querendo falar com você, saber como foi o seu dia, por exemplo, ou que série ou filme sem noção que não tem nada a ver com os meus gostos você está vendo. Ou o que você pensa sobre algo. E poder passar horas falando sobre assuntos vagos, porque a gente só podia fazer isso. Hoje eu me sinto uma personagem de mim mesma. Eu falo sobre as coisas e eu devo parecer muito bem resolvida para quem me vê de fora. Mas eu já não acredito nesse papel que eu criei para mim mesma e isso é muito pior.

"Se você tivesse uma chance de ir viver um dia no seu futuro ou um dia no seu passado, para onde você iria?". Eu sempre tive um pouco de dúvida sobre isso. Eu nunca consegui decidir se valeria mais a pena descobrir o futuro ou reviver algum dia do passado, mas... hoje em dia, eu acho que se eu pudesse fazer algum dos dois, acho que eu só viveria um dia nosso de novo. E nem precisava ser um dia especial, sabe? Podia ser um dia comum. Podia ser até um dia meio ruim, se você quiser saber. Para mim, seria suficiente.

Eu sempre tive crises existenciais. Acho que sempre vou ter, na verdade. E hoje eu vejo como eu sinto falta de você só falar algo como "tá tudo bem, vai ficar tudo bem", porque, por mais que eu ficasse frustada por tudo continuar sem solução, isso era o necessário e o essencial. Isso sempre foi mais do que suficiente.

Eu me sinto bem tonta de sentir tudo isso ainda. Eu queria ter uma máquina que só te tirasse da minha memória como em "Brilho eterno de uma mente sem lembranças", lembra? Acho que, como a Clem, eu impulsivamente só faria isso. Mas eu não tenho. E o tempo também não adiantou para me fazer parar de sentir e esquecer. E, no fim, eu fico esperando você voltar ou só cruzar a minha vida de novo diretamente do passado, como em um filme do Nicholas Sparks. Porque, afinal, é fim de ano e milagres acontecem.

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Enclausurado

Às vezes eu fico pensando sobre tudo isso... Eu passei anos procurando respostas, revivendo acontecimentos do passado, sentindo saudade, alegria e dor, algumas vezes. Eu ouvi músicas, assisti filmes e séries, reli coisas. E eu realmente acreditei que nunca mais eu falaria com você. E aí você reapareceu e eu finalmente achei que ia entender tudo o que tinha acontecido. E logo você sumiu de novo, me deixando com mais dúvidas do que nunca. E, depois disso, nada fez mais sentido nenhum mesmo para mim.

E eu acho que essa talvez seja a sua maior injustiça comigo. De todas. Nunca ter me deixado descobrir a verdade. Não me deixar saber. Não ser honesto. Eu sempre li um livro incompleto. Por anos e anos.

Nem sempre é fácil superar algumas coisas na vida. Certos acontecimentos exigem muito tempo para serem "curados". Mas eu acho que entender as situações e as pessoas ajuda nesse processo. E isso é algo que eu nunca pude ter na nossa história. E isso é bem triste, na verdade. Porque eu acho que eu nunca entreguei o meu coração tão sinceramente para outra pessoa.

Você nunca me deu todas as peças desse quebra-cabeça. E isso me faz ficar presa, de alguma forma. E não é certo. É sufocante voltar para a nossa história de tempos em tempos. Por falta de respostas. Por esperanças vazias de uma incompreensão.

Eu não sei se você considera isso um castigo merecido por coisas que eu fiz. Ou se você realmente não compreende o efeito disso em mim. Eu não sei dizer se é maldade, negligência ou indiferença, mas não é fácil. Para mim.

Algumas pessoas acham que o maior presente que um ser humano pode dar para o outro é amor. Eu já pensei assim. Mas hoje eu enxergo que isso não é verdade. O maior presente que um ser humano pode dar para o outro é a liberdade.

A gente tem que ser livre para poder ser feliz.