quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Mayday

É como estar navegando em um oceano infinito. Eu flutuava. Mas agora o peso dentro de mim me puxa para baixo. É difícil manter a cabeça fora da água. Mas o meu único pensamento é você. Você. Que se perdeu em uma maré há muitos e muitos quilômetros. E eu atravessei meses e anos sem você. A gente se perdeu em correntes diferentes. E eu já não enxergo você na água mais. Eu não sei mais nada sobre você. Você continua navegando por aí? Por onde? Será que ficou em algum porto? Ou será que você sumiu para sempre nessa imensidão? Tentei escrever... mas nada te alcançou. Ou você preferiu que não alcançasse. Tanta coisa aconteceu comigo nessa jornada. Tanta coisa que eu queria te dizer, mas não pude. Tanta coisa eu passei. E mudei. Eu achei que a sua partida tivesse ficado para trás. Eu achei que eu pudesse navegar sem você. Parecia o certo. Mas agora você é a única esperança de resgate. Eu remo, procuro, volto, tento encontrar, me confundo entre rostos... não acho. A cada dia eu afundo um pouco mais. E espero ver no horizonte o teu sinal. Que não chega. Não sei se vai chegar. Eu te espero, relembro. Procuro pistas nas nossas memórias. Pergunto por você. Ninguém viu. Ninguém sabe. Será que um dia nossas rotas se cruzam de novo? Eu imploro aos céus por uma resposta, mas só recebo silêncios. Silêncio que ecoa na minha saudade de você. Profundidade.

domingo, 3 de novembro de 2019

You don't see me

Antes eu não conseguia sentir que as palavras poderiam descrever tudo o que eu sentia estando com você. Hoje eu sinto que nenhuma palavra pode descrever tudo o que eu sinto sem você.

Eu queria poder organizar em frases os meus pensamentos e sentimentos tão conflitantes e te fazer entender. Mas parece que os anos tornaram essa tarefa ainda mais impossível.

Eu queria te explicar que as coisas que eu tinha certeza na vida se perderam. E que as coisas que eu mais sonhava e achava que iam me fazer sentir realizada só me fizeram sentir mais vazia.

Eu queria te contar que eu odiei La La Land na primeira vez em que eu assisti. Como as pessoas podiam gostar de um filme tão triste? E aí eu queria te contar que, na segunda vez em que eu assisti, eu entendi que o filme era sobre a vida real. E eu chorei. Porque às vezes a vida leva as pessoas para caminhos diferentes. E elas acabam, no futuro, apenas trocando um olhar cúmplice sobre o que poderia ter sido e não foi.

E queria te contar que tem dias em que nada faz sentido para mim. Dias que eu fico olhando para tudo e sinto que nada tem solução. E que, em algum momento, eu sempre percebo que um dos meus maiores vazios é o seu vazio. Ou melhor, o vazio que eu sinto com o seu vazio.

Eu queria te contar que a verdade é que eu não sei muito bem como as coisas chegaram até aqui. Como tudo foi acontecendo. Há alguns anos, eu sentia que eu tinha controle sobre as decisões. E, hoje, eu só sinto que os anos passaram do nada e que eu tenho pouco - ou nenhum - poder sobre qualquer coisa.

Eu queria te dizer que eu cheguei a conclusão de que a vida não tem solução mesmo. E que eu não sei muito bem se ser adulto melhora ou dificulta as coisas. Que eu não sei se a gente vai adequando a nossa felicidade à realidade ou se a gente só vai se conformando com as coisas como elas são. E que isso me assusta.

Eu queria te dizer que semana passada alguém comentou algo sobre Brilho eterno de uma mente sem lembranças e eu pensei em tanta coisa sobre a gente em poucos segundos que o conceito de tempo poderia ser reformulado.

Eu queria te dizer que eu queria te dizer várias coisas felizes e super positivas, porque eu tenho medo de você não entender mais o meu jeito niilista e isso ser mais um fator para você se afastar. Mas a verdade é que eu não sei se nada disso importa.

Eu queria te dizer que eu sinto falta de falar com você. Muita. Acho que a gente só consegue entender esse tipo de coisa quando isso que aconteceu com a gente, de fato, acontece. Mas com você eu tive as melhores conversas da minha vida. E eu sinto falta da sua contraposição ao que eu penso e acredito.

Eu queria te dizer que, quando eu tento entender como foi que a gente se afastou, que eu não consigo entender. Que tudo só parece um borrão. Como um trem desgovernado.

Eu queria te dizer que eu penso mais do que eu deveria em como as coisas poderiam ter sido se eu tivesse agido de forma diferente em várias ocasiões.

Eu queria te dizer que eu demorei muito tempo para entender o valor de Wish You Were Here, mas que hoje eu escuto e sinto na alma cada palavra dessa música.

Eu queria te dizer que eu sei que eu tive absurdamente muitos relacionamentos nessa vida e que isso pode soar condescendente, mas que quando eu penso em sentimentos verdadeiros e profundos, só a gente faz sentido nisso tudo.

E eu queria te dizer que, com o passar dos anos eu me tornei muito cética sobre amor e relacionamentos, mas que, de alguma forma até contraditória, eu ainda acredito na gente. E que, quando eu penso sobre futuro com alguém e passar a vida com outra pessoa, que é sobre você.

Eu queria dizer que eu te odeio alguns dias. E outros, não. Que eu tento muito entender tudo isso e que eu não consigo. E isso é péssimo.

Eu queria te dizer que eu sinto a sua falta quase todos os dias. E que eu tento muito só não pensar nisso tudo, não lembrar, esquecer e só seguir a minha vida, mas isso sempre volta.

Eu queria te dizer que uma vez você me escreveu "não esquece de mim e da gente". E eu queria te dizer que eu não esqueci um dia sequer. E que eu nunca vou. Que, pelo contrário, você está sempre aqui.

Eu queria te dizer que você pode passar a vida me ignorando, que você pode pensar "nossa, até quando" e que você pode esperar que uma hora eu vou só cansar e desistir. E eu queria te dizer que tudo bem, mas que não, que eu vou estar aqui sentindo e dizendo sempre a mesma coisa. E falando sozinha quanto tempo for preciso. Porque How can I move on when I'm still in love with you?