quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Diário de um coração esgotado

É curioso como, mesmo quando nós entendemos que não é possível ficar estagnado esperando coisas, pessoas e situações, a nossa mente fica tentando encontrar razões para as coisas terem acontecido como aconteceram. Somos seres que não conseguem encontrar paz até compreender as situações. Somos obcecados por respostas.

É isso o que me angustia agora. A tristeza passa, a frustração, também. Não foi exatamente simples, mas, um dia após o outro, tudo vai se dissipando e diminuindo. Mas os porquês continuam martelando na minha cabeça de vez em quando. Naqueles momentos que te pegam em um fim de tarde ou naquele silêncio antes do sono. E principalmente nas horas em que eu só consigo pensar em nós dois juntos e felizes... A realidade me dá um soco no estômago e eu só consigo questionar.

Começa com algo como "cara, eu não consigo entender o motivo disso tudo estar acontecendo como está acontecendo", depois eu fico analisando cada pedacinho dos dias que antecederam tudo isso. Eu lembro que, sei lá, eu te esperei por anos, sabe. E meio que eu me acostumei com aquele sentimento de querer muito uma coisa, mas me conformar de que era impossível. E aí rolou toda aquela doideira, que eu ainda não entendo, mas tudo bem, nada tinha mudado. Em um domingo, eu lembro de sentar de olhos fechados para o sol. Eu fiquei ali só existindo em um universo que eu quase nada compreendo. E foi ótimo. Mas, em certo momento, eu pensei: "Eu não entendo nada do que está acontecendo, universo, mas eu quero muito uma resposta, eu preciso disso" (nesses anos todos, eu comecei a acreditar muito em energia e atração e coisas que têm que ser). Naquele domingo à noite, poucas horas depois, você apareceu.

Eu fico dissecando cada segundo daquilo. Cada palavra que você me falou. Fico tentando analisar seus sentimentos em cada coisa que você escreveu. Fico tentando compreender se você ainda é quem eu conhecia ou se você virou uma pessoa completamente diferente. Essa parte dói, eu assumo. Porque pensar em quem você era, me dá saudade. E pensar que você virou alguém completamente diferente, me dá um sentimento de agonia, por algum motivo. E, ao mesmo tempo, eu só consigo querer conhecer a pessoa que você se tornou, porque, afinal, de alguma forma, essa pessoa, ainda que diferente, é uma extensão de quem você foi um dia. E, de uma forma egoísta, eu só quero achar algum pedaço meu ainda dentro de você. Porque... eu mudei, mas eu acabei não perdendo as suas partes dentro de mim. Pelo contrário, elas só ficaram maiores e mais significantes.

Eu tento entender o porquê disso. Porque, para mim, era claramente o destino dizendo "olha, eu sei que você passou por muita coisa, mas foi para chegar nisso, agora você vai entender tudo" e, na minha cabeça, fazia todo o sentido. O momento certo, a hora que tinha que ser, as coisas pelas quais eu passei e as lições que eu aprendi. Tudo tinha uma lógica e a lógica era você. Você e eu. Agora. Que timing, universo. Pena que isso tudo só existiu dentro da minha realidade imaginária.

Você apareceu e eu senti que você só queria a mesma coisa que eu. Tipo, cara, a gente perdeu tempo demais, eu te amo muito e vamos parar de perder tempo. Eu vivi tanta coisa e foi ótimo e péssimo, eu senti sua falta em cada momento e não faz mais sentido não ter você na minha vida. Foi o que eu achei. Foi o que eu senti. Mas agora eu me questiono todo o tempo qual era a sua visão daquilo tudo. Isso também dói. Porque algumas possibilidades são difíceis demais de reconhecer e acolher.

Eu não sei se você só fez tudo no impulso e depois se arrependeu. Ou se você só queria viver uma fagulha de passado, mas não de futuro. Se você teve medo e resolveu fugir mais cedo do que nunca. Se você percebeu que você já não sentia mais o mesmo. Se foi alguma coisa que eu disse... ou se foi quem eu sou hoje. Eu continuo rebobinando tudo na minha cabeça, nessa torturante e inútil tentativa de entender.

É difícil lidar com coisas dolorosas na vida. Mas acho que é mais difícil quando você não sabe as razões daquilo acontecer. Eu fico presa no dilema: foi alguma coisa que eu fiz? Como eu posso ter feito algo tão grave em tão pouco tempo? O que eu fiz em, tipo, dois dias para a outra pessoa pensar "hum, não, eu não quero isso"?

Uma vez você me disse que eu ia acabar ficando sozinha. Que eu ia precisar passar por isso para aprender a agir com as pessoas que gostam de mim. E que eu ia afastar todos que se importam comigo nesse processo. Hoje, essas suas palavras ficam ecoando dentro de mim. Parece irônico. Eu fico em pedaços, eu fico estática. Eu me sinto estúpida, porque eu só queria poder curar todas essas coisas que doem com você, eu e você, mas é justamente você que está causando tudo isso. O coração é, definitivamente, um órgão burro.

Por que você apareceu se não queria ficar? E se você não queria ficar, por que você falou que queria? Se você não tinha sentimento, por que fingiu sentir? Se você ia só sumir, por que me deixar sonhar com algo que você sabia que nunca ia acontecer? Por que brincar com algo tão importante para mim? Depois de tanto tempo, você apareceu e me fez sentir de novo a dor de te perder, quando eu já tinha me acostumado com essa perda. Isso é tão cruel que eu não consigo entender. E não sei se algum dia  eu vou.

Eu achei que eu já tivesse conseguido várias peças desse quebra-cabeça. Talvez até fosse possível ver o desenho se formando. Mas hoje eu vejo que, na verdade, talvez só tenham mais e mais coisas que eu não faço ideia.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

As palavras que eu nunca quis ter que te dizer

O tempo passou. E muita coisa aconteceu. E eu achei que, depois de tudo isso, nós finalmente teríamos a chance de consertar as coisas e fazer direito desta vez. Juntos. Talvez eu quisesse muito voltar no tempo e viver de novo tudo aquilo que mais me fez feliz até hoje. Mas talvez não seja tão simples voltar no tempo. Não se alguma das partes não quiser realmente isso.

Foi muito fácil voltar a sentir tudo de novo. Foi fácil porque, na verdade, você nunca foi embora. Foi fácil porque por mais longe que você estivesse, você sempre esteve muito perto. Mesmo sem saber, você esteve presente na saudade, na alegria, na tristeza, na dor, na conquista, na música, no cheiro, na lembrança, na risada e até no abraço que não era o seu, mas que foi tão desejado. É difícil explicar a minha conexão com você. Uma coisa de alma e de vidas. 

Eu já conheci muita gente. E é maluco pensar que tempo e espaço nunca foram os determinantes nos meus sentimentos. É comum a gente pensar aquela coisa egocêntrica de que, quanto mais alguém parece com a gente e quanto mais afinidade temos, mais próxima e intensa vai ser a nossa ligação com a pessoa. Mas você sempre foi prova viva de que isso é uma grande ilusão. A gente nunca foi parecido, nunca gostou das mesmas coisas. Eu sempre quis viver tudo e sentir tudo agora, logo, rápido. Você sempre foi mais vamos refletir e analisar e pensar de novo, com calma. Você era a teoria, eu era a prática. E, mesmo nas nossas gigantescas diferenças, a gente deu um jeito de se encontrar, se gostar e ficar junto, de alguma forma. E eu só posso te garantir que nada nem ninguém nunca foi maior do que isso. E nunca vai ser. 

Eu nunca entendi como duas pessoas podem se amar e saber que são feitas uma para a outra, mas não acabarem juntas. Nunca fez sentido para mim. Mas, por mais que eu queira, a vida não é um filme com roteiro feito, ensaiado e final feliz. Amores sempre vão ser amores, mas talvez até as almas gêmeas se percam de vez em quando. 

Eu aprendi certas coisas nos últimos anos. E algumas foram bem difíceis de aceitar. Uma delas é que às vezes não importa o quanto você queira algo, o quanto você ame e o quanto você se esforce para conseguir uma coisa, só não é para ser. E a outra é que a gente não pode cobrar amor e implorar sentimento. Porque, no final, é pior. Receber amor por cobrança é mais solitário do que não receber amor nenhum.

Então eu respiro em paz agora. Meu coração vai seguir tranquilo e sem dúvidas do que poderia ter sido, porque eu tenho plena consciência de que eu fiz o que estava ao meu alcance. Eu tentei, sabe. E isso é mais importante do que conseguir. E eu pude falar o que eu sentia e pedir desculpa pelo que precisava. Eu te deixei muito claro o meu sentimento e a minha vontade. Essa é a minha parte. O que você fez com isso é a sua.

Eu queria te esperar a vida todinha. Eu queria poder te falar todos os dias o quanto eu te amo e como eu acho que a gente é perfeito um para o outro, mesmo com tanta imperfeição. Eu queria ter você todos os segundos, para sempre. Mas eu não posso. E eu tenho que seguir, de alguma forma. Porque a vida sempre segue. E traz coisas bonitas também. Nem sempre é o que a gente quer, mas às vezes é o que a gente precisa. E, hoje, eu não tenho mais medo de seguir sozinha.

E, no fundo, eu só espero que esse não seja o fim. Eu espero ainda te encontrar por aí nas suas voltas. Mas isso não depende mais de mim. E se você sentir saudade ou mudar de ideia, me esbarra por aí. Tente não me esquecer, vou tentar sempre te amar.

Ao som de: https://youtu.be/pjTj-_55WZ8