quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pé na estrada


      Sentou-se perto da janela. Era uma tarde engraçada, o céu estava claro, mas chovia forte. Começou a olhar os pingos caindo e atingindo o chão. Pensou sobre o que estava fazendo com a sua vida.

    Um estranho amargo no peito. A cidade – naquele momento, encharcada – estava ali. Todas as oportunidades ali. Por que insistia em não aproveitar? Por que insistia em seguir pelo caminho mais difícil?

     Havia se acomodado com um modo de viver que não lhe preenchia, não fazia feliz. Sentia medo por não saber o que a aguardava, mas, sabia, era a hora de partir.

     Ele havia mentido e a enganado de novo. Mas será que não era pior o jeito que ela mentia pra si mesma e se enganava? Continuar acreditando e apostando todas as suas fichas em um amor que a machucava? Uma pessoa que não mudava e não se importava de lhe magoar? Era isso o que realmente queria para si mesma? Não, não mais.

     Arrumou as malas, as roupas, os pertences e as esperanças. Uma nova fase começava. Algo mais leve, ela merecia. Deixou as fotos, os vídeos e as cartas cheias de palavras de amor, de quem há muito não sabia mais o que aquilo significava. Pegou um pedaço de papel e começou a escrever.

     “Você tenta fugir da vida. Essas suas atitudes de menino imaturo e confuso só mostram como você tenta escapar desesperadamente de decidir quem você é e o que realmente quer. Mas, cópia sem glamour de Dean Moriarty, um dia a vida vai te colocar na parede e você vai ter que encarar tudo o que fez e o que não fez até agora. E você vai estar sozinho, porque as pessoas estão seguindo com suas vidas, enquanto você brinca de viver.

     A verdade é que você tem muito medo de se machucar e, então, machuca os outros primeiro, achando que todo mundo é como você e tendo uma falsa ilusão de que está no controle de tudo.

     Você é inseguro demais e isso faz com que você nunca acredite que alguém sinceramente te ama. Seu ciúme descontrolado e, muitas vezes, sem sentido nenhum é fruto da sua obsessão de achar que nunca é bom o bastante e de que você pode ser trocado a qualquer momento.
 
     E sabe por que você tem sempre uma garota estepe? Porque pensar em ficar sozinho te apavora, pois ficar sozinho é ter que encarar a si mesmo e você não tem coragem suficiente para isso. Você não tem coragem de olhar para os seus defeitos e todos os erros que você comete. E aí o que você faz? Volta para essa relação morna, sem encontro de almas.

     Estou partindo agora com o alívio de ter tentado ficar com você e, inclusive, ter te dado a chance de fazer diferente e provar que mudou. Você não soube aproveitá-la, mas eu não devo me culpar por isso, tenho a paz de não me perguntar o resto da vida como teria sido.

     Às vezes a gente pensa que é o fim da linha, mas, na verdade, a gente sempre pode olhar para trás na estrada em que viemos e voltar. O caminho que nos trouxe também pode servir de retorno para outro lugar. O importante não é seguir sempre em frente, mas chegar aonde precisamos.”

     Saiu da sala escura para o dia claro, lá fora. Trancou a porta, mas não levou a chave.





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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Porco-espinho

     Quantas vezes um coração pode ser quebrado e conseguir voltar a funcionar? Quantas vezes o seu coração tem que ser quebrado para você finalmente entender? Quantas vezes pela mesma pessoa? Quantas vezes você consegue voltar a acreditar depois disso?

     Filmes nos ensinam a acreditar em um mundo de mentiras. E o amor é uma delas. Filmes nos fazem achar que o amor é sublime, que o príncipe encantado erra, mas percebe o erro e se redime e que, no final, todos têm seus finais felizes. Não, a vida real não é assim. Na vida real, o amor é um veneno, o príncipe encantado vira sapo, sem nunca perceber o quanto é egoísta, e os finais felizes são raros.

     Sempre me intriguei com algumas pessoas. Na verdade, a maioria das pessoas. As pessoas que vivem suas vidas pela metade. Aqueles que nunca se entregam de verdade para a vida. Aqueles que nunca sentem as coisas de verdade e sempre amam pela metade. Aqueles que têm medo de se machucar e vivem sempre na zona de conforto. Aqueles que fogem do que vai fazê-los felizes de verdade, porque ser feliz é tirar o pé do chão e tirar o pé do chão pode resultar em dor.

     Ser intenso não é fácil. Ser intenso é entregar a arma a quem você sabe que vai te ferir. Ser intenso é amar com cada parte do seu corpo alguém que vai te machucar e te decepcionar. Ser intenso é acreditar, se entregar e mergulhar em uma coisa que você não conhece, mas que sabe que, mais tarde, pode te matar. Ser intenso, ou viver de verdade, é dar a cara a tapa, é pagar para ver, é se expor, é se arriscar, é ir atrás do que você quer, sem levar em conta a possibilidade do fracasso. Ser intenso é ter a coragem de lutar pelo que você realmente quer. Ser intenso é não trair a si mesmo.

     Ser o porco-espinho que se esconde é muito mais fácil do que ser o que fica perto de outro e morre perfurado, mas vale a pena passar a vida inteira se protegendo? Vale a pena nunca se estregar e nunca saber como é a loucura de sentir uma coisa real por alguém? Vale a pena nunca sentir?

     Continuem se escondendo nos seus casulos seguros, mas me deem espaço, porque eu quero passar.




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