segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Carta para Alice

Querida Alice,

Desde pequena você ouviu histórias que começavam com “Era uma vez” e terminavam com “E foram felizes para sempre”. Eram aventuras incríveis, com mundos perfeitos, lições transformadoras e muito idealismo. É, Alice, durante muito tempo você viveu nesse mundo inventado. Afinal, a gente não pode se machucar em um faz de conta, não é?


É claro que, com o tempo, Alice, a vida, como era de ser, mostrou que, mesmo quando você queria fechar os olhos e estar em outro lugar, era ela quem controlava o jogo. As expectativas e projeções de um mundo ideal constantemente se chocavam com a dureza de uma vida real que, por ser muito mais complexa, não permite uma fórmula mágica. Isso te confundiu, não é, Alice? 


Não me entenda mal, Alice, eu consigo compreender como o País das Maravilhas é atrativo. Afinal, não seria incrível se pudéssemos controlar as coisas e tudo fosse exatamente como nós imaginamos dentro da parte mais profunda do nosso ser?


Porém, agora, eu gostaria que você refletisse um pouco comigo. Perceba, Alice, que, se você for sincera e pensar direito, o País das Maravilhas talvez não seja tão maravilhoso assim. E, sim, confuso e absurdo.


E você já parou para considerar, Alice, que talvez nem tudo o que te falaram e te fizeram acreditar era verdade? Como as rosas brancas que foram pintadas de vermelho para enganar a Rainha de Copas. As rosas não deixaram de ser brancas, elas só foram manipuladas para parecerem vermelhas.


Também pense, minha cara Alice, quantas vezes você tentou entender e encontrar o seu espaço no País das Maravilhas e não conseguiu. Talvez isso tenha acontecido porque aquele não era o seu lugar.


Mas não se desespere, Alice, porque essas palavras que escrevo não são para desanimá-la. Pelo contrário, elas têm um poder libertador. Acho que posso te dar algum conforto ao dizer que uma coisa o País das Maravilhas tinha de verdade: nada é impossível. Mas, para isso, Alice, você tem que deixar ir aquilo que você acha que é e encarar o que realmente é.


Alice, está tudo bem. Confie em mim quando digo que você pode abandonar o seu refúgio no País das Maravilhas e estabelecer raízes sólidas na vida real. Você vai entender que não precisa deixar de ver beleza e felicidade nas coisas e vai perceber que aqui existem muito mais possibilidades para você. Sei que o País das Maravilhas é profundamente tentador, mas lembre-se que uma mentira bonita nunca vai chegar perto do valor de uma verdade dolorosa.


Ei, Alice, sei que você pensa que deve ser o que as outras pessoas querem e esperam de você. Mas, acredite em mim, você pode ser você. Do jeito que quiser. Saia de dentro dessa fantasia que criaram para você e tenha coragem de embarcar em aventuras reais e nada perfeitas, sendo quem você realmente é. Vem, Alice, é hora de deixar o País das Maravilhas. Você não vai se arrepender.


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