domingo, 17 de outubro de 2010

Liberdade

Eu tentei te segurar, eu tentei te manter, com unhas e dentes, de um jeito insano, com saudade, com raiva, com esperança de nós ainda podíamos. Eu tentei resgatar você do passado e te deixar no presente. Eu fiz isso porque achei que eu fosse tudo pra você que você ainda era pra mim. Não foi racional, não foi da melhor forma, mas foi da minha forma. Eu ainda acreditava nisso.

Em uma das poucas vezes que eu tentei fazer diferente, que eu tentei lutar, o resultado foi desastroso. Eu lutava sozinha uma batalha que pra você já havia sido perdida há muito tempo. Minta pra si mesmo, minta pra mim, minta pra todo mundo, mas você e eu sabemos a verdade. Eu percebi isso, vi que você tinha desistido, mas eu quis fazer você enxergar que ainda dava pra gente. Algumas vezes eu achei que eu estava conseguindo, ainda que você fossem coisas opostas o que você dizia e o que você fazia. As palavras me davam esperança e depois era com elas que eu me desiludia.

Eu dei meu grito de socorro sufocado várias vezes pra você, quando eu não queria nada além de compreensão, em silêncio, com você ao meu lado. Poder sentir que o mundo é uma loucura mesmo, que a gente se sente vazio, mas que é normal. Saber que você ainda era aquele que me confortava mesmo sem uma palavra, só com sua presença, porque sua presença sempre valeu muito mais do que qualquer palavra, qualquer conselho. A gente conseguia se entender melhor assim. Você fechou os olhos para mim. Todas as vezes. E eu neguei isso. Eu não queria acreditar que nossa amizade tinha acabado.

Aquele era meu último pedido de socorro, era sua última chance de salvar isso que já definhava e dava os últimos sinais de vida. Foram seis toques no celular, menos de sessenta segundos, mas eu senti mais de um ano passando naqueles poucos segundos. Dizem que quando a morte chega perto você vê a inteira passando por seus olhos. Eu vi nossa vida inteira, todas as bobagens, todos os risos fáceis passando pelos meus olhos que só esperavam uma voz cansada ou mesmo de raiva do outro lado.

Eu estava sozinha como em todas as outras vezes. Você fingiu não ver, você decidiu não enfrentar. Você fugiu como um garoto covarde, como sempre faz quando as coisas ficam difíceis demais. E eu chorei por você, pela última vez, no nosso enterro. Era a aceitação que finalmente chegava.

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